sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Efeito Borboleta

Efeito borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963por Edward Lorenz. Segundo a cultura popular, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo. O que no fundo é uma metáfora para dizer que uma acção aparentemente inocente pode provocar outra bem mais dramática noutra ponta do mundo (ou do país), por menos que pareçam estar relacionadas à primeira vista.

Ora então passo do mais geral ao mais particular:

SE A SENHORA DA DEPILAÇÃO NÃO ME TIVESSE ARRANCADO O PIPI ONTEM, HOJE UM SENHOR NÃO TERIA CAÍDO NA LINHA DO COMBOIO!

Já consegui a vossa atenção?

Óptimo.

Passo então a explicar. E acho que esta é das grandes.

Ontem fui à depilação e a senhora esteticista, entre sorrisos e meiguice e conversa fiada, foi-me arrancando os pêlos junto com bocados de pele. Doeu. Muito. E como fiquei tão traumatizada e não tinha a minha mãe para me comprar um chocolate e dizer já passou, fiz a próxima coisa lógica: fui às lojas.

Entrei na Pull mais próxima e vi uma botas lindas, maravilhosas, altas, elegantes. Minhas! E eu merecia-as, oh, se merecia, depois de aguentar tamanha prova de fogo.

Comprei e comecei logo a pensar no dia a seguir, e se seria aconselhável usá-las sem saber se magoavam ou não. Mas pelo caminho cheguei à conclusão que mesmo que magoassem os meus pés de princesa, se calhar a dor dos pés me distrairia de outras dores.

No dia a seguir, cheia de sono mas 8 centímetros mais alta, lá fui apanhar o comboio. A estação estava a abarrotar, era feriado em Barcelona. Grande parte do pessoal que ia no comboio eram jovens que tinham ido para a farra na cidade nessa noite enquanto eu ia trabalhar toda ramelosa - mas 8 centímetros mais alta.

No comboio ia um senhor com uma bicicleta roubada do serviço de bicing da cidade e lembro-me de pensar: olha-me este filha da puta a roubar a bici! É por causa de gente assim que o serviço está cada vez pior! E ainda por cima traz a bici no comboio, onde não há espaço. E com os copos! E depois esqueci esse pensamento porque me concentrei noutro: ainda bem que tinha trazido as botas – 8 centímetros mais alta – porque assim tinha onde me agarrar no comboio: nos ferrinhos de cima, onde nunca chego normalmente.

Chego à terrinha onde trabalho, saio do comboio e venho a falar com um colega quando os saltos das botas se prendem num trilho de altinhos da plataforma e para evitar isso fui mais para a direita. Passados 30 segundos ouço alguém atrás de mim: cuidado!

Era o senhor da bici que vinha atrás de mim, bateu-me no braço e só o vejo em câmara lenta direitinho a malhar da plataforma, de uma altura descomunal, com o focinho em cheio nos carris do comboio sem sequer tirar as mão do guiador. Opá, surreal! Pensei: está morto ou tetraplégico no mínimo. Tentamos chamá-lo: sai da via! (olha os comboios), estás bem? E o gajo levanta-se a cambalear, branco que nem um fantasma, dá meio passo e espatifa-se outra vez no chão, desta vez com o outro lado da cara. Levanta-se outra vez e malha outra vez. Levanta-se e malha. Os meus colegas tentam tirá-lo de lá antes que ele se matasse com as quedas consecutivas enquanto eu corro relativamente rápido em cimas de 8 centímetros de salto para chamar ajuda. Chamo o senhor da estação e quando chegamos lá já o rapaz estava sentado na estação, branco que nem 1 fantasma, a sangrar de uma orelha (era 1 corte, que eu examinei logo não fosse uma hemorragia interna). E diz ele, a modo de explicação: “eu ia tranquilamente na minha, e ela (eu) de repente desviou-se...”

Respirei fundo e controlei a vontade de agarrar nele e atirá-lo para a linha outra vez. Ou seja... a culpa era minha que ia de costas e não vi (com o olho do CU!) que vinha um gajo bêbado atrás de mim em bicicleta num sítio onde não se pode andar de bicicleta, e que teve todo o tempo do mundo para reagir, travar, meter os pés no chão ou, pelo menos, em caso de perigo, tirar as mãos do volante e atirar a bicicleta para longe e tentar cair de pé. Não. O amigo em vez de travar atirou-se para a linha e caiu a pique com os reflexos de quem está à espera que a bicicleta comece a voar como no filme do ET. Com as mãos agarradinhas ao guiador.

O senhor acabou por escapar-se para casa para ir curar a bebedeira e esconder a bicicleta roubada, não quis ir ao hospital, e eu passei o dia todo preocupada que ele se tivesse aleijado de verdade.

O que me leva à conclusão do título:

Se a senhora da depilação não me tivesse arrancado o pipi eu não teria sentido a necessidade de ir comprar as botas e sem as botas não teria a necessidade de me chegar um pouco mais para a direita e o gajo bêbado não teria ido parar de focinho na linha do comboio...

A vida é irónica, verdade?

4 comentários:

ganda disse...

mas porque é q foste á depilação? nao será aí o abanar das asas da borboleta?

Baresi disse...

GEnial!

Vanda disse...

E as botas? valeram os euros que pagaste? ... ao menos isso!!
Jinhos

Izzy disse...

Vem giras.

Castanhanhinhas com 1 laçarote

Pareço uma sinhora...