Flutuo suspensa entre o céu e a terra, presa por fios de fumo e luz que não me deixam subir nem descer.
Lá em baixo a vida passa por mim.
Vejo o rio a correr, gélido e transparente, para o mar. Quero banhar-me em ti!
Vejo a borboleta a voar. Imperial, linda. Ainda ontem eras uma lagarta. Quero voar contigo!
Vejo os gatinhos a trepar às árvores. Quero brincar com vocês!
Vejo o tempo a passar-me ao lado. Quero ir contigo!
Vejo pessoas que não têm medo de viver,
Que não têm medo de amar
Que não têm medo de ser amadas
Que choram e riem e não querem saber de busca espiritual
Que não passam a vida a fugir de si mesmas
Quando tudo o que querem é encontrar-se
Mas eu estou suspensa entre o céu e a terra por fios imaginários, ténues, invisíveis que me sufocam e protegem ao mesmo tempo.
Se ao menos tivesse coragem de os cortar podería sobreviver à queda e, mesmo com uma perna partida e a alma em sangue, podería brincar com os gatinhos, voar com a borboleta, viajar com o tempo, amar talvez...
Alguém tem uma tesoura imaginária?
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